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Review: MultiVersus sacrificou muito, mas está pronto para ser jogo como serviço

Jogo deixa de lado diversos recursos de jogabilidade e oferece fluxo contínuo de conteúdo em troca

Por Bruno Silva 06.06.2024 17H03

Desde que os games passaram a ser obras em constante atualização por meio de patches de correção, a narrativa do título que saiu mal e ficou bom depois ficou cada vez mais comum. Mas poucas vezes eu vi isso ser usado de forma tão demarcada e apropriada pelos próprios donos do jogo como em MultiVersus.

O game que chegou em 2022 em versão beta (ou seja, não finalizada) fez muito barulho ao juntar, dentro da estrutura de luta em plataforma consagrada por Super Smash Bros., personagens da Warner Bros como os heróis e vilões da DC Comics, de Game of Thrones, os Looney Tunes, figuras do Cartoon Network e... o LeBron James.

O sucesso foi imediato, com milhares de jogadores em plataformas como o Steam. Mas, sem novidades de conteúdo, o público acabou deixando o jogo de lado, até os servidores fecharem em meados de 2023, quando a WB Games afirmou que o estúdio Player First Games prepararia a versão final do game.

Sendo assim, MultiVersus é lançado (ou relançado, dependendo da perspectiva) em sua versão pronta para o público, e a primeira pergunta que surge é: o hiato valeu a pena?

Trailer de MultiVersus

Crédito: Divulgação/WB Games

A resposta é: sim, MultiVersus finalmente parece um jogo preparado para encarar o duro mercado dos games como serviço - e não esconde sua intenção de conquistar (ou reconquistar) seus jogadores.

Mas, antes de falar do serviço, vamos falar do jogo. Embora boa parte de sua estrutura de jogo seja praticamente idêntica a de Super Smash Bros., dos cenários às condições de vitória, é preciso dizer que os envolvidos em MultiVersus aprenderam a lição sobre o que faz o game da Nintendo ser especial: a atenção aos detalhes.

Das animações de corrida do Salsicha, passando pelo moveset inteiro de Tom e Jerry referenciar a eterna briga entre gato e rato, até as intervenções malucas do Coringa, fica muito claro que cada personagem no elenco do game foi pensado com bastante carinho. Essa base é fundamental, ainda mais levando em conta o rol de figuras sob propriedade da WB que podem ser adicionadas nos próximos meses.

Do lado mais técnico, a impressão é de que o jogo voltou pior do que ele estava no seu período de beta. O combate tem uma sensação geral similar a do jogo anterior, mas peca em detalhes que fazem a diferença em partidas mais disputadas, como a ausência de um sistema de decaimento de dano ao se usar o mesmo ataque repetidamente (algo existente em Smash Bros), o que permite a um jogador “apelar” para a mesma técnica repetidas vezes, ou a possibilidade de troca de ataques laterais e neutros.

Divulgação/WB Games

Parte dessas ausências fazem parte do processo de redesenvolvimento do jogo, que foi inteiramente transportado para a Unreal Engine 5 no período em que os servidores ficaram desligados. Nas redes sociais, um membro da equipe de desenvolvimento já prometeu a inclusão das funcionalidades que estavam no beta, mas isso nos faz perguntar: por que esse não foi o foco?

A resposta está justamente no lado serviço inteiramente novo que a versão 1.0 de MultiVersus traz. Como em todo jogo free to play, oferece uma experiência em que boa parte do conteúdo é acessível com moedas obtidas apenas em jogo, completando passes de batalha e outros tipos de missões por repetição.

Boa parte desse grind pode ser feito no modo inédito single-player do jogo chamado Fendas, que oferece uma série de lutas em sequência intercaladas com estágios de mini-games. Tudo isso é envelopado por uma narrativa que, como o título do jogo já demonstra, envolve um multiverso no qual os personagens sob propriedade da WB cruzam seus caminhos.

O modo em si parece mais adequado para sessões mais curtas de jogo, já que a sequência de partidas contra a máquina tende a ficar repetitiva e os minigames pouco inspirados não variam tão bem esse ritmo como planejado. O problema é que isso entra em conflito com a natureza do jogo como serviço, que requer muito tempo gasto nele para acumular as moedas necessárias para obter personagens do elenco.

Divulgação/WB Games

Faz falta também uma opção de testar cada personagem antes de adquiri-lo — resta torcer para que isso também esteja na lista de melhorias da Player First Games.

Em contrapartida, MultiVersus parece estar bem preparado para não deixar seus jogadores ficarem entediados. O game já chegou com novos personagens, a promessa de mais adições, e uma série de atividades e eventos que ajudam a manter o interesse, algo fundamental para qualquer título como serviço que queira sobreviver ao longo prazo.

O jogo também traz uma estratégia agressiva para reconquistar quem esteve no beta, oferecendo gratuitamente o passe de batalha pago a essa parte da comunidade. Como é possível conseguir a moeda premium do jogo em ambos os passes de batalha, a estratégia, de forma similar a Fortnite, é manter os jogadores em um loop no qual eles completam o passe de batalha e obtém recursos o suficiente para comprar o próximo.

Em seu retorno à arena, MultiVersus sacrificou muito. Por isso, é um jogo que apresenta diversos problemas e, talvez, esteja ainda pior do que a versão beta em termos de jogabilidade. Mas, em termos de conteúdo, parece estar no caminho correto, pois tem atrativos o suficiente para manter sua base de jogadores interessada por mais tempo do que em 2022 e 2023. Os problemas devem ser corrigidos a longo prazo. A questão é saber se os heróis, vilões e demais personagens vão sobreviver ao duro mundo dos jogos como serviço.

 
Nota do crítico