O estúdio ZA/UM, antes considerado um estúdio independente em ascensão na indústria após o sucesso e impacto cultural de Disco Elysium, parece estar em colapso após o cancelamento de quase todos os seus projetos, demissões, e conflitos legais com os líderes criativos do seu jogo de sucesso.

Em fevereiro, o estúdio foi mais um em uma longa lista de empresas na indústria de games a fazer demissões em massa, com 24 pessoas – cerca de 25% do quadro de funcionários – perdendo seus empregos, incluindo o último roteirista do jogo original, Argo Tuulik.

Agora, uma nova reportagem do site PC Gamer revela o por trás das cenas do cancelamento de vários dos projetos que estavam em desenvolvimento dentro do estúdio após o sucesso da companhia.

De cinco projetos planejados nos últimos anos, apenas dois seguem em produção: Codinome M0, um jogo mobile que se passa no mundo de Elisyum; e C4, um RPG de maior escala, mas sem ligação com o universo do jogo original.

Os outros entraram em colapso, aparentemente graças a conflitos entre a chefia e as figuras criativas do estúdio.

A sequência original, conhecida internamente como Y12, foi engavetada após a saída/demissão de três das principais figuras do jogo original: o diretor Robert Kurvitz, que também idealizou muito do mundo de Elysium; o diretor de arte Alexander Rostov; e a roteirista Helen Hindpere.

Disco Elysium
ZAUM/Divulgação

Atualmente, Kurvitz e Rostov, que também eram sócios da companhia, estão em uma batalha legal com o ZA/UM.

Outro projeto, P0, seria um RPG de ficção científica chefiado por Kaur Kender, escritor e outro investidor do ZA/UM que ajudou na produção de Disco Elysium. Kender também deixou o estúdio, e também chegou a processá-los depois disso.

O terceiro projeto, que é foco da reportagem do PC Gamer, tinha o codinome X7, e seria uma expansão/extensão do game original que seria "sobre um dos personagens mais adorados de Disco Elysium", de acordo com uma fonte.

A expansão teria envolvimento de Tuulik, que escreveu personagens como Cuno e os Hardies no jogo original, e "seria a melhor tentativa possível de um jogo no estilo de Disco sem [Kurvitz], Rostov, e outros que fizeram o Disco Elysium original".

Tuulik, junto com a roteirista Dora Klindžić, também foram entrevistados pela reportagem, e culpam a gerência do ZA/UM pelo cancelamento do projeto.

Os dois relatam que tiveram que bolar o projeto de X7 em uma semana, e que a expansão não teve qualquer pré-produção, com os roteiristas precisando escrever e coordenar com o restante da equipe enquanto elaboravam a narrativa.

A situação ficou ainda mais intensa quando P1 foi cancelado e sua equipe transferida para a expansão.

Mais tarde, de acordo com as fontes, Tõnis Haavel, um dos executivos do estúdio e condenado por fraude na Estônia, essencialmente tomou o projeto para si, com Tuulik – que mesmo sem um papel definido era considerado o chefe criativo do projeto – perdendo sua influência no desenvolvimento.

Klindžić suspeita que parte disso foi causado pelo documentário-reportagem que o canal People Make Games fez sobre o estúdio, em que Tuulik aparece como uma das figuras mais significativas e simpáticas ao público, e que apesar de criticar Kurvitz em diversos momentos, também falou abertamente sobre seus problemas com a gerência do ZA/UM e o jeito com que o diretor do jogo original (e um dos principais idealizadores de Disco Elysium) foi tratado.

"Eles colocaram Argo em uma campanha de humilhação", relatou. "Eles o fizeram pedir desculpas às pessoas pelo que ele disse na entrevista. Eles minaram sua confiança e tentaram fazê-lo duvidar de si mesmo. Eles falaram que ele era incompetente, desqualificado, e despreparado para chefiar seu próprio projeto, o rebaixaram e o tornaram invisível dentro do estúdio."

Por enquanto, não há qualquer previsão de quando (ou se) os projetos restantes do estúdio vão ser lançados.