Depois de Blood and Wine, a expansão de The Witcher 3: Wild Hunt que marcou a indústria dos jogos para sempre, as expectativas dos fãs da CD Projekt Red para Phantom Liberty, a expansão de Cyberpunk 2077, naturalmente, estão nas alturas. E, felizmente, devo dizer que o resultado foi absolutamente positivo.

Você talvez se lembre de que o The Enemy publicou, em junho, uma entrevista com Mike Pondsmith, o criador do RPG de mesa Cyberpunk 2020 — e, portanto, a pessoa responsável pelo universo no qual tanto o jogo Cyberpunk 2077 quanto o anime Cyberpunk: Mercenários são situados.

De acordo com ele, mais do que salvar o mundo da Arasaka e da Militech ou algo tipo, a franquia Cyberpunk gira em torno das relações humanas. Tudo é pessoal. Afinal, são pessoas que dão significado para as vidas de tantas outras pessoas.

Phantom Liberty, tanto quanto o jogo base, sabe trabalhar com muito cuidado a construção de relações às quais os jogadores inevitavelmente se apegam. Songbird e Solomon Reed, os dois personagens inéditos mais importantes da expansão, são nomes dos quais eu ainda vou me lembrar por muito tempo. Inclusive, no final, não se surpreenda se você não estiver tão seguro a respeito das decisões que tomou ao longo da jornada.

Rosalind e V fogem de Hansen.

Se Night City já apresentava uma realidade brutal aos pés daqueles prédios super tecnológicos, que evidenciam o contraste entre alto desenvolvimento e baixa qualidade de vida, Dogtown, o distrito em que Phantom Liberty se passa durante a maior parte do tempo, é ainda pior.

Enquanto explora a nova região de Night City, que é integrada ao resto do mapa tanto por pontos de viagem rápida quanto por uma passagem terrestre, você pode ter a sensação de que está, em determinados momentos, cercados por pedestres tão malucos quanto aqueles dos saudosos códigos de GTA: San Andreas.

Johnny no banheiro.

"Caótica" é o adjetivo ideal para essa nova região, em que Kurt Hansen é o ditador supremo. Ninguém tem coragem de bater de frente com ele. Nem mesmo Rosalind Mayers, a presidente dos Novos Estados Unidos da América, consegue manter a calma ao adentrar o território desse inimigo específico.

Basicamente, Phantom Liberty começa com uma ligação que V recebe de uma trilha-rede misteriosa chamada Songbird. De acordo com Songbird, os Novos Estados Unidos da América podem remover Johnny Silverhand da cabeça de V de uma vez por todas, mas V não tem muitos motivos para acreditar em Songbird. O que acontece depois desse contato eu não vou falar, obviamente, mas devo ressaltar que toda essa jornada inédita é cheia de escolhas difíceis.

Reed fala com V no carro.

Talvez seja pelo texto, que é, realmente, brilhante, ou talvez seja pelo fato de que a perspectiva da câmera em primeira pessoa nos deixa muito mais próximos dos acontecimentos, mas fato é que Phantom Liberty testa os jogadores ao limite. Você nunca sabe quais escolhas são as certas ou quais podem levar à morte de V nas mãos de chefes do crime, chefes de estado e donos de empresas que são extremamente poderosos.

Ao todo, jogadores têm acesso a 13 missões principais em Phantom Liberty, além de 17 novas missões e serviços secundários. Todos esses conteúdos inéditos vêm acompanhados também de uma nova árvore de habilidades do Relic, que traz vantagens inéditas para V, além da reformulação de todo o sistema de progressão anterior.

Primeiro encontro com Alex.

Posso dizer, com certeza, que as mudanças foram para o melhor. Se, antes, as vantagens pareciam um tanto embaralhadas, de forma que nem sempre era tão fácil saber quais melhorias funcionavam melhor juntas, agora, a progressão é muito mais intuitiva.

Não bastassem as habilidades inéditas e a progressão reformulada, Phantom Liberty traz ainda novas armas, novos veículos, novos consumíveis, novas roupas e novas atividades recorrentes no mundo aberto: missões de roubo de carros para o canal Muamar "El Capitán" Reyes e missões de roubo de cargas em Dogtown. Existe até mesmo um novo minijogo chamado Trauma Drama, disponível nos fliperamas de Night City e Dogtown.

Johnny observa um mural na chuva.

De muitas maneiras, parece que Night City está mais viva e reativa, assim como Dogtown. Tanto os ícones de novas atividades aparecem constantemente quanto a polícia se tornou mais inteligente, por exemplo, embora ainda esteja a anos luz de distância de algo como o que se vê em GTA, por exemplo.

Aliás, jogadores não precisam mais se preocupar com deixar o personagem todo feio para ter os itens com mais armadura. O sistema de Cibernéticas também foi remodelado, então, a armadura deixou de estar associada às roupas, embora algumas ainda ofereçam proteção extra, e passou a estar associada às Cibernéticas, o que faz mais sentido e ainda permite maior liberdade na personalização de V.

El Capitán fala com V.

Caso você esteja se perguntando a respeito de quanto tempo leva até chegar no ponto em que Phantom Liberty se torna disponível, saiba que há dois caminhos possíveis: você pode tanto começar a história do zero ou retomar a partir do ponto que havia parado quanto começar um novo jogo que vai direto para Phantom Liberty.

Os jogadores que decidirem começar direto em Phantom Liberty receberão um personagem que estará no nível 20 e terá atributos e Cibernéticas pré-definidos. Não é a maneira que eu recomendo para aproveitar o conteúdo, mas é uma saída possível para quem quer muito ver o que acontece na expansão em si.

Bilionária francesa fala com V.

Independentemente da escolha que você fizer, o que aguarda absolutamente todos os jogadores é uma história cheia de momentos importantes nos quais as vidas de NPCs estão nas mãos de V, que precisa calcular muito bem quais relacionamentos fortalecer e quais destruir para atingir os próprios objetivos.

Chega um momento, em Phantom Liberty, no qual a história se divide em duas rotas que são completamente diferentes. Após essa escolha fundamental na jornada de V, jogadores poderão se ver em situações completamente opostas. A rejogabilidade, ao menos nesse trecho final, é inegável.

Igreja invadida por inimigos.

Além disso, não faltam trabalhos em que uma decisão errada pode resultar na morte de um NPC simpático ou na alegria de um NPC que não merece respeito. Tanto quanto no jogo base, você terá de tomar muito cuidado com o que diz e para quem diz. Nesse sentido, confesso que Cyberpunk 2077 me impressiona muito mais do que outros jogos com escolhas. Nem mesmo The Witcher 3 me fez pensar tanto antes de escolher o que dizer, já que eu não queria prejudicar aqueles a quem mais me apeguei.

Não bastasse o fenomenal design de missões, a composição visual dos cenários de Dogtown é impecável. Não faltaram momentos, à noite, em que eu me vi obrigado a parar a exploração para tirar algumas fotos. Principalmente, no entorno da boate Heavy Hearts, que tem um formato peculiar de pirâmide e brilha bastante à noite. O neon em uma noite chuvosa se destaca de maneira hipnotizante; qualquer pessoa que aprecia a estética cyberpunk ficará encantada.

Songbird na festa do Hansen.

Seria melhor ainda se esse esplendor não viesse acompanhado de alguns problemas que foram herdados do jogo base. Sim. Ainda existem alguns glitches na tela, como texturas que aparecem e desaparecem de repente ou ficam piscando, ou NPCs que falam e se esquecem de abrir a boca (em muitos casos, isso aconteceu com o próprio Reed, que é extremamente importante).

Há também casos em que V precisa seguir algum personagem ou esperar que outros personagens se aproximem dela para continuar andando, e a movimentação dos NPCs, nesses momentos, é sempre muito estranha. Além disso, em cerca de 20 horas jogando a expansão, o jogo simplesmente parou de funcionar e tive de reiniciar quatro vezes.

V no topo da pirâmide.

Então, não, Cyberpunk 2077, mesmo quase três anos após o lançamento, ainda não se livrou de todos os bugs e quedas nos quadros por segundo. Aliás, é extremamente improvável que isso aconteça um dia.

Apesar de reconhecer o lado ruim da experiência, devo dizer que Phantom Liberty foi tudo o que eu esperava e até mais. Cyberpunk 2077 é, essencialmente, um jogo muito humano, apesar de todas as tecnologias exageradas que fazem parte do gênero. Discussões sociais se fazem presentes ao longo de toda a narrativa, que nos obriga a refletir em cada desfecho de cada missão.

Como Night City se tornou a cidade terrível que é? Como Dogtown se tornou uma versão ainda pior de Night City? Talvez a humanidade, no mundo real, esteja na rota que leva a esse futuro trágico neste exato instante. E essa percepção só deve vir quando já estivermos nos afogando.


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Cyberpunk 2077: Phantom Liberty
  • Lançamento

    25.09.2023

  • Publicadora

    CD Projekt Red

  • Desenvolvedora

    CD Projekt Red.

  • Censura

    18 anos

  • Gênero

    RPG/Ação.

  • Testado em

    PlayStation 5

Nota do crítico